segunda-feira, 11 de outubro de 2010

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Em 1835 foi desencadeada a Revolução Farroupilha, que manifestava o descontentamento da Província de São Pedro do Rio Grande, a mais meridional do Império, com o governo regencial do Império do Brasil. Os objetivos do movimento, inicialmente não muito claros, tomaram um rumo irreversível nesse episódio.


Enquanto o líder, general Bento Gonçalves, concentrava-se em ações militares próximo a Porto Alegre, o General Antônio de Sousa Neto, comandante da 1ª Brigada Ligeira de Cavalaria do Exército Liberal, travava uma batalha contra forças imperiais, próximo ao Arroio Seival, em Bagé, que acabou em vitória rotunda e surpreendente. A batalha ficou conhecida como Batalha do Seival.

As forças legalistas do tenente-coronel João da Silva Tavares acamparam na barra do arroio Seival, afluente do Candiota. Sabendo da presença do coronel Antônio de Souza Neto, lançou-se à sua procura, sendo interceptado pelos farrapos nas pontas do Seival, em 10.9.1836. O tenente-coronel Tavares recuou a tropa para uma coxilha, colocando no centro a infantaria e nas alas, a cavalaria.



A cavalaria de Neto avançou como se fosse atacar a infantaria legalista que recuou para que suas alas envolvessem os farrapos. No último momento Neto virou o ataque para a ala esquerda legalista e girou, atacando o centro imperial pela retaguarda. Ao ser atacada, a infantaria imperial tentou retornar para a posição anterior, sendo atropelada pela cavalaria de sua ala direita. Os imperiais perderam 11 oficiais e 156 soldados, enquanto os farrapos tiveram 34 baixas entre mortos e feridos.



Embalados pela vitória, os farrapos armaram bivaque no campo de Meneses. Ainda levavam a bandeira imperial. À noite, Joaquim Pedro Soares e Manuel Lucas de Oliveira convenceram Neto a proclamar a República argumentando que a Coluna do Centro, comandada por Bento Gonçalves e acampada em Viamão estava perdida.



Mesmo sem o conhecimento de Bento Gonçalves, líder do movimento, Neto e seus pares, pelos princípios republicanos comungados por todos, inclusive Gonçalves, resolveram separar a Província do resto do Império do Brasil e proclamá-la uma nação republicana independente. Bento Gonçalves seria informado e aclamado presidente, posteriormente.

Joaquim Pedro e Lucas de Oliveira redigiram a proclamação e ao amanhecer do dia 11, com a tropa formada, o cel. Neto avançou a galope com seu piquete, recebeu continência e foi aclamado general em chefe do exército republicano. A seguir, Joaquim Pedro ordenou que a força desmontasse, formando quadrado, leu a justificação da luta contra o despotismo atroz do governo central e que tinha como objetivo transformar a província a num estado livre e independente.



Eis o texto lido pelo General Antônio de Sousa Neto frente a suas fileiras:



“Ontem obtivestes o mais completo triunfo sobre os escravos da Corte do Rio de Janeiro, a qual, invejosa das vantagens locais de nossa província, faz derramar sem piedade o sangue de nossos compatriotas, para deste modo fazê-la presa de suas vistas ambiciosas. Miseráveis! Todas as vezes que seus vis satélites se têm apresentado diante das forças livres, têm sucumbido, sem que este fatal desengano os faça desistir de seus planos infernais.

São sem número as injustiças feitas pelo Governo. Seu despotismo é o mais atroz. E sofreremos calados tanta infâmia? Não, nossos companheiros, os rio-grandenses, estão dispostos, como nós, a não sofrer por mais tempo a prepotência de um governo tirânico, arbitrário e cruel, como o atual. Em todos os ângulos da província não soa outro eco que o de independência, república, liberdade ou morte. Este eco, majestoso, que tão constantemente repetis, como uma parte deste solo de homens livres, me faz declarar que proclamemos a nossa independência provincial, para o que nos dão bastante direito nossos trabalhos pela liberdade, e o triunfo que ontem obtivemos, sobre esses miseráveis escravos do poder absoluto.

Camaradas! Nós que compomos a 1ª Brigada do Exército Liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual fica desligada das demais do Império, e forma um estado livre e independente, com o título de República Rio-grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará competentemente. Camaradas! Gritemos pela primeira vez: viva a República Rio-grandense! Viva a independência! Viva o exército republicano rio-grandense!”



Campo dos Menezes, 11 de setembro de 1836 – Antônio de Sousa Neto, coronel-comandante da 1ª brigada.

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