segunda-feira, 11 de outubro de 2010

LETRAS E AUTORES




O Hino Rio-Grandense que hoje cantamos tem a sua história particular e, porque não dizer, peculiar. Porque muitas controvérsias apresentou, desde seus tempos de criação até os tempos de então. Oficialmente existe o registro de três letras para o hino, desde os tempos do Decênio Heróico até aos nossos dias. Num espaço de tempo de quase um século foram utilizadas três letras diferentes até que finalmente foi resolvido, por uma comissão abalizada, que somente um deles deveria figurar como hino oficial.





O PRIMEIRO HINO



A história real do Hino, começa com a tomada da então Vila de Rio Pardo, pelas forças revolucionárias farroupilhas. Ocasião em que foram aprisionados uma unidade do Exército Imperial, o 2° Batalhão, inclusive com a sua banda de música. E o mestre desta banda musical, Joaquim José de Mendanha, mineiro de nascimento que também foi feito prisioneiro era um músico muito famoso e considerado um grande compositor. Após a sua prisão ele, Mendanha, teria sido convencido a compor uma peça musical que homenageasse a vitória das forças farroupilhas, ou seja a brilhante vitória de 30 de abril de 1838, no célebre “Combate de Rio Pardo”.

Mendanha, diante das circunstâncias, resolveu compor uma música que, segundo alguns autores, era um plágio de uma valsa de Strauss. A melodia composta por Mendanha era apenas musicada. E o capitão Serafim José de Alencastre, pertencente as hostes farrapas e que também era versado em música e poesia, entusiasmado pelos acontecimentos, resolveu escrever uma letra alusiva à tomada de Rio Pardo.



SEGUNDO HINO



Quase um ano após a tomada de Rio Pardo, foi composta uma nova letra e que foi cantada como Hino Nacional, o autor deste hino é desconhecido, oficialmente ele é dado como criação de autor ignorado. O jornal “O Povo”, considerado o jornal da República Riograndense em sua edição de 4 de maio de 1839 chamou-o de “o Hino da Nação”.



TERCEIRO HINO



Após o término do movimento apareceu uma terceira letra, desta vez com autor conhecido: Francisco Pinto da Fontoura, vulgo “o Chiquinho da Vovó”. Esta terceira versão foi a que mais caiu no agrado da alma popular. Um fato que contribui para isto foi que o autor, depois de pronto este terceiro hino, continuou ensinando aos seus contemporâneos o hino com sua letra. A letra deste autor é basicamente a mesma adotada como sendo a oficial até hoje, mas a segunda estrofe, que foi suprimida posteriormente era a seguinte:



Entre nós reviva Atenas


Para assombro dos tiranos;

Sejamos gregos na Glória,

E na virtude, romanos.


HINO DEFINITIVO

Estas três letras foram interpretadas ao gosto de cada um até meados do ano de 1933, ano em que estavam no auge os preparativos para a “Semana do Centenário da Revolução Farroupilha”. Nesse momento um grupo de intelectuais resolveu escolher uma das versões para ser a letra oficial do hino do Rio Grande do Sul.

A partir daí, o Instituto Histórico contando com a colaboração da Sociedade Rio-Grandense de Educação, fez a harmonização e a oficialização do hino. O Hino foi então adotado naquele ano de 1934, com a letra total conforme fora escrito pelo autor, no século passado, caindo em desuso os outros poemas.

No ano de 1966, o Hino foi oficializado como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense, por força da lei 5213 de 05 de janeiro de 1966, quando foi suprimida a segunda estrofe.

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Em 1835 foi desencadeada a Revolução Farroupilha, que manifestava o descontentamento da Província de São Pedro do Rio Grande, a mais meridional do Império, com o governo regencial do Império do Brasil. Os objetivos do movimento, inicialmente não muito claros, tomaram um rumo irreversível nesse episódio.


Enquanto o líder, general Bento Gonçalves, concentrava-se em ações militares próximo a Porto Alegre, o General Antônio de Sousa Neto, comandante da 1ª Brigada Ligeira de Cavalaria do Exército Liberal, travava uma batalha contra forças imperiais, próximo ao Arroio Seival, em Bagé, que acabou em vitória rotunda e surpreendente. A batalha ficou conhecida como Batalha do Seival.

As forças legalistas do tenente-coronel João da Silva Tavares acamparam na barra do arroio Seival, afluente do Candiota. Sabendo da presença do coronel Antônio de Souza Neto, lançou-se à sua procura, sendo interceptado pelos farrapos nas pontas do Seival, em 10.9.1836. O tenente-coronel Tavares recuou a tropa para uma coxilha, colocando no centro a infantaria e nas alas, a cavalaria.



A cavalaria de Neto avançou como se fosse atacar a infantaria legalista que recuou para que suas alas envolvessem os farrapos. No último momento Neto virou o ataque para a ala esquerda legalista e girou, atacando o centro imperial pela retaguarda. Ao ser atacada, a infantaria imperial tentou retornar para a posição anterior, sendo atropelada pela cavalaria de sua ala direita. Os imperiais perderam 11 oficiais e 156 soldados, enquanto os farrapos tiveram 34 baixas entre mortos e feridos.



Embalados pela vitória, os farrapos armaram bivaque no campo de Meneses. Ainda levavam a bandeira imperial. À noite, Joaquim Pedro Soares e Manuel Lucas de Oliveira convenceram Neto a proclamar a República argumentando que a Coluna do Centro, comandada por Bento Gonçalves e acampada em Viamão estava perdida.



Mesmo sem o conhecimento de Bento Gonçalves, líder do movimento, Neto e seus pares, pelos princípios republicanos comungados por todos, inclusive Gonçalves, resolveram separar a Província do resto do Império do Brasil e proclamá-la uma nação republicana independente. Bento Gonçalves seria informado e aclamado presidente, posteriormente.

Joaquim Pedro e Lucas de Oliveira redigiram a proclamação e ao amanhecer do dia 11, com a tropa formada, o cel. Neto avançou a galope com seu piquete, recebeu continência e foi aclamado general em chefe do exército republicano. A seguir, Joaquim Pedro ordenou que a força desmontasse, formando quadrado, leu a justificação da luta contra o despotismo atroz do governo central e que tinha como objetivo transformar a província a num estado livre e independente.



Eis o texto lido pelo General Antônio de Sousa Neto frente a suas fileiras:



“Ontem obtivestes o mais completo triunfo sobre os escravos da Corte do Rio de Janeiro, a qual, invejosa das vantagens locais de nossa província, faz derramar sem piedade o sangue de nossos compatriotas, para deste modo fazê-la presa de suas vistas ambiciosas. Miseráveis! Todas as vezes que seus vis satélites se têm apresentado diante das forças livres, têm sucumbido, sem que este fatal desengano os faça desistir de seus planos infernais.

São sem número as injustiças feitas pelo Governo. Seu despotismo é o mais atroz. E sofreremos calados tanta infâmia? Não, nossos companheiros, os rio-grandenses, estão dispostos, como nós, a não sofrer por mais tempo a prepotência de um governo tirânico, arbitrário e cruel, como o atual. Em todos os ângulos da província não soa outro eco que o de independência, república, liberdade ou morte. Este eco, majestoso, que tão constantemente repetis, como uma parte deste solo de homens livres, me faz declarar que proclamemos a nossa independência provincial, para o que nos dão bastante direito nossos trabalhos pela liberdade, e o triunfo que ontem obtivemos, sobre esses miseráveis escravos do poder absoluto.

Camaradas! Nós que compomos a 1ª Brigada do Exército Liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual fica desligada das demais do Império, e forma um estado livre e independente, com o título de República Rio-grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará competentemente. Camaradas! Gritemos pela primeira vez: viva a República Rio-grandense! Viva a independência! Viva o exército republicano rio-grandense!”



Campo dos Menezes, 11 de setembro de 1836 – Antônio de Sousa Neto, coronel-comandante da 1ª brigada.

ANITA

Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita Garibaldi, (Morrinhos, Laguna, 30 de agosto de 1821 — Mandriole, Itália, 4 de agosto de 1849) foi a companheira do revolucionário Giuseppe Garibaldi, sendo conhecida como a "Heroína dos Dois Mundos". Ela é considerada, até hoje, uma das mulheres mais fortes e corajosas da época.




Alguns estudiosos alegam que Anita Garibaldi teria nascido em Lages, que na cúria metropolitana daquela cidade estaria o registro dos irmãos mais velho e mais novo dela, e que teria sido retirada do livro a folha do registro de Ana Maria de Jesus Ribeiro. Em 1998, entidades representativas da sociedade civil de Laguna promoveram uma ação judicial para obter o registro de nascimento tardio de Anita Garibaldi. A ação tramitou na primeira vara da comarca de Laguna, sendo instruída com diversos documentos que comprovariam que Anita nasceu no município de Laguna. Assim, em 5 de dezembro de 1998, proferiu-se:



"Ante o exposto, julgo procedente o pedido inicial, a fim de determinar o registro de nascimento de Ana Maria de Jesus Ribeiro, nascida em 30 de agosto de 1821, na cidade de Laguna, filha de Bento Ribeiro da Silva, natural de São José dos Pinhais, Paraná, e de Maria Antônia de Jesus Antunes, natural de Lages, Santa Catarina, sendo seus avós paternos Manuel Collaço e Ângela Maria da Silva e avós maternos Salvador Antunes e Quitéria Maria de Sousa, o que faço embasado no artigo 50, § 4º combinado com o 52, § 2º, da Lei n.º 6.015/73." (Ação de Registro de Nascimento Tardio n.: 040.98.000395-4).”



Anita Garibaldi, descendente de portugueses imigrados dos Açores à província de Santa Catarina no século XVIII, provinha de uma família modesta. O pai Benito era comerciante em Lages e casou-se com Maria Antônia de Jesus, com a qual teve seis filhos.

Após a morte do pai, Anita cedo teve que ajudar no sustento familiar e, por insistência materna, casou-se, em 30 de agosto de 1835, aos catorze anos, com Manuel Duarte de Aguiar, na Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna. Depois de somente três anos de matrimônio, o marido alistou-se no exército imperial, abandonando a jovem esposa.

Durante a Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, o guerrilheiro italiano Giuseppe Garibaldi, a serviço da República Rio-Grandense, participa da tomada do porto de Laguna, na então província de Santa Catarina, onde conheceu Anita. Ficaram juntos pelo resto da vida de Anita, que seguiu Garibaldi em seus combates em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai (Montevidéu) e Itália. O casal teve quatro filhos, o primeiro dos quais, chamado Menotti Garibaldi, nasceu no estado do Rio Grande do Sul, na então vila e atual cidade de Mostardas.



Em 1847, Anita foi para a Itália com os filhos e encontrou-se com a mãe de Garibaldi, em Nizza (atual Nice, na França). O próprio Garibaldi reuniu-se a eles alguns meses depois.

Em 9 de fevereiro de 1849, presenciou com o marido a proclamação da República Romana, mas a invasão franco-austríaca de Roma, depois da batalha no Janículo, obrigou-os a abandonar a cidade. Com 3 900 soldados (800 deles a cavalo), Garibaldi deixou Roma. Em sua perseguição saíram três exércitos (franceses, espanhóis e napolitanos) com quarenta mil soldados. Ao norte lhes esperava o exército austríaco, com quinze mil soldados.

Anita, em estado avançado de gravidez, tentou não ser um peso para o marido, mas suas condições pioraram quando atingiram a República de San Marino. Ela e Garibaldi decidiram não aceitar o salvo-conduto oferecido pelo embaixador americano e continuaram a fuga. Com febre e perseguida pelo inimigo, foi transportada às pressas à fazenda Guiccioli, próximo a Ravenna, onde morreu em 4 de agosto de 1849.

Caçado pelos austríacos, sem nem sequer poder acompanhar o sepultamento da esposa, Garibaldi saiu outra vez para o exílio e, nos dez anos em que esteve fora da Itália, os restos mortais de Anita foram exumados por sete vezes. Por vontade do marido, seu corpo foi transferido a Nice. Em 1932, seu corpo foi finalmente sepultado no monumento construído em sua homenagem no Janículo, em Roma.

GARIBALDI

Giuseppe Garibaldi (Nice, 4 de julho de 1807 — Caprera, 2 de junho de 1882) foi um general, guerrilheiro,[1] condottiero e patriota italiano, alcunhado de "herói de dois mundos" devido a sua participação em conflitos na Europa e na América do Sul. Uma das mais notáveis figuras da unificação italiana, ao lado de Giuseppe Mazzini e do Conde de Cavour, Garibaldi dedicou sua vida à luta contra a tirania. Nasceu em Nizza (hoje Nice, na França), então ocupada pelo Primeiro Império Francês e que retornaria ao reino de Sardenha-Piemonte, com a queda de Napoleão Bonaparte, para ser depois cedida à França por Cavour[2], pelo tratado de Turim (24 de março de 1860).



No Brasil, aproximou-se dos republicanos que haviam proclamado a República Rio-grandense (11 de setembro de 1836), no Rio Grande do Sul e tornou-se uma figura importante na Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha, na qual os republicanos do sul combateram o Império do Brasil. Ao lado do general Davi Canabarro, tomou o porto de Laguna, em Santa Catarina, onde foi proclamada a República Catarinense (República Juliana). A marinha da jovem República Riograndense estava bloqueada na lagoa dos Patos, pois as forças imperiais dominavam a cidade de Rio Grande, na saída da lagoa para o mar. Para levar as forças republicanas até a cidade de Laguna, Garibaldi levou seus dois barcos através de um trecho de 86 quilômetros de terra, utilizando enormes carretas puxadas por duzentos bois. Um dos barcos naufragou já no Atlântico e, a bordo do outro (o Seival), Garibaldi empreendeu a tomada de Laguna.

Em Laguna, Garibaldi conheceu Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida depois como Anita Garibaldi, com quem se casaria e que se tornaria sua companheira de lutas na América do Sul e depois na Itália. Quando, após quase uma década de luta, ficou evidente que a República Rio-grandense estava condenada a desaparecer, o presidente Bento Gonçalves dispensou Garibaldi de suas funções, e ele então mudou-se para Montevidéu, no Uruguai, com Anita e seu filho Menotti, nascido em Mostardas, no litoral sul do estado do Rio Grande do Sul.

“Eu vi corpos de tropas mais numerosas, batalhas mais disputadas, mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, nem cavaleiros mais brilhantes que os da bela cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras aprendi a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações.

Quantas vezes fui tentado a patentear ao mundo os feitos assombrosos que vi realizar por essa viril e destemida gente, que sustentou, por mais de nove anos contra um poderoso império, a mais encarniçada e gloriosa luta!” (Garibaldi)

Garibaldi regressou à Itália em 1848 para lutar na Lombardia contra o exército austríaco e iniciar a luta pela unificação italiana. Sua tentativa de expulsar os austríacos fracassou e teve que refugiar-se primeiro na Suíça e depois em Nice, atualmente na França.

Apesar de eleito para o parlamento italiano, Garibaldi passou a maior parte dos seus últimos anos em Caprera. Também deu apoio ao projeto de aterramento das áreas ao sul do Lácio.

Em 1879, fundou a "Liga da Democracia", propondo o sufrágio universal, a abolição da propriedade eclesiástica, a emancipação feminina.

Doente e de cama por causa de artrite, fez viagens à Calábria e Sicilia. Em 1880 casou com Francesca Armosino, com quem tinha tido previamente três filhos.

Em 2 de junho de 1882, aos 74 anos, Giuseppe Garibaldi morreu em sua casinha na ilha de Caprera. Embora tenha deixado instruções detalhadas para sua cremação, seu corpo foi enterrado na ilha de Caprera, onde repousa com sua última esposa e alguns de seus filhos.

DAVID CANABARRO

David José Martins, conhecido como David Canabarro, (Taquari, 1796 — Santana do Livramento, 1867) foi um militar brasileiro.


Descendente de açorianos, é neto de José Martins Faleiros e dona Jacinta Rosa, naturais da Ilha Terceira. Instalados em Porto Alegre, aí lhes nascia o filho homem que seria José Martins Coelho. Dona Mariana Inácia de Jesus, natural da Ilha de Santa Catarina, que, com seus pais Manuel Teodósio Ferreira e dona Perpétua de Jesus, se instalaria em Bom Jesus do Triunfo pelo ano de 1778, aí conheceu o futuro marido, José Martins Coelho que com a família também para ali se havia transferido.

Casados, mudaram-se logo para Taquari onde lhes nasceu, a 22 de agosto de 1796, o menino David José, no lugar denominado Pinheiros, uma légua além da freguesia-sede, em terrenos que adquirira José Martins Coelho, fundando uma estância d ' e criar.

O sobrenome Canabarro foi adicionado mais tarde, vindo de seu avô, Manuel Teodósio Ferreira, que havia recebido o apelido do marquês do Alegrete e o adicionado ao seu nome.

Na Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, inicialmente conservou-se indiferente aos acontecimentos políticos. Tendo a ela se juntado tardiamente. Iniciou como tenente, mas rapidamente galgou postos, assumiu o comando em junho de 1843, quando o antigo chefe, Bento Gonçalves, para evitar a cisão entre os republicanos, desligou-se do comando e passou a servir sob as ordens do próprio Canabarro.

Sua única derrota em toda a guerra, foi na Batalha de Porongos, onde relaxado pelas negociações de paz que empreendia com o barão de Caxias, foi surpreendido pela tropa de Mouringue, teve sua tropa massacrada, inclusive os Lanceiros Negros.

Enquanto negociava a paz com os imperiais, Canabarro recebeu uma proposta de Juan Manuel de Rosas, governante argentino, que pretendia ampliar a fronteiras de seu país. Em troca da colaboração farroupilha, ele receberia ajuda argentina para continuar a batalha contra o império. Canabarro respondeu através de carta, onde afirmava sua fidelidade ao país, mesmo que este fosse monarquista e ele republicano.

Como chefe dos revoltosos, aceitou a anistia oferecida pelo governo em 18 de dezembro de 1844, através do Duque de Caxias, chamado O pacificador. Encerradas as negociações em 25 de fevereiro de 1845, ficou estabelecido que os republicanos indicariam o próximo presidente da província, o governo imperial responderia pela dívida pública do governo republicano, os oficiais do exército rebelde que desejassem passariam ao exército imperial com os mesmos postos e os prisioneiros farroupilhas seriam anistiados

GOMES JARDIM

Considerado um dos promotores da Revolução Farroupilha,José Gomes de Vasconcelos Jardim, sediou em sua residência e sob o Cipreste histórico, em Pedras Brancas, hoje Guaíba, as reuniões decisivas para a invasão de porto Alegre, em 19 de setembro de 1835, e como ponto de encontro dos farroupilhas. Atualmente, o imóvel, construído em 1790, integra o Sítio Histórico do Cipreste.




Gomes jardim nasceu em 12 de abril de 1773. Em relação ao local de nascimento existem divergências. Alguns historiadores optam por Santo Amaro e outros por Viamão e Porto Alegre. Era filho de Agostinho Gomes Jardim e Theresa Barbosa Menezes. Casado com a prima, Isabel Leonor Leitão, fixou residência na antiga sesmaria do sogro Antônio Ferreira Leitão, passada por herança para a filha. Da união do casal ficaram sete filhos.



Nas margens do Guaíba, o revolucionário montou uma charqueada e uma olaria. Trabalhador, ele conseguiu fazer fortuna. Tinha prestígio e influência especialmente por também exercer a medicina, o que o tornava ainda mais popular e benquisto. Em sua casa, Gomes Jardim organizou uma espécie de hospital para receber doentes vindos de todos os pontos do Rio Grande. Para exercer a profissão não precisou de estudos, nem de cursos regulares. Possuía bons livros e tinha uma verdadeira vocação médica.



No inicio da Revolução Farroupilha, junto com outros 60 homens, atravessou o Guaíba e uniu-se às forças de Onofre Pires, para atacar porto Alegre. Em 1836, quando foi proclamada a Republica Rio-Grandense, Gomes Jardim assumiu inteiramente a presidência da Província, no lugar de Bento Gonçalves, preso na Ilha de Fanfa, após derrota para os imperiais. Participou da Revolução até a assinatura do Tratado de Paz de Ponche Verde, onde esteve representado pelo ministro de Guerra,Coronel Manoel Lucas de Oliveira.

GOMES JARDIM

Considerado um dos promotores da Revolução Farroupilha,José Gomes de Vasconcelos Jardim, sediou em sua residência e sob o Cipreste histórico, em Pedras Brancas, hoje Guaíba, as reuniões decisivas para a invasão de porto Alegre, em 19 de setembro de 1835, e como ponto de encontro dos farroupilhas. Atualmente, o imóvel, construído em 1790, integra o Sítio Histórico do Cipreste.




Gomes jardim nasceu em 12 de abril de 1773. Em relação ao local de nascimento existem divergências. Alguns historiadores optam por Santo Amaro e outros por Viamão e Porto Alegre. Era filho de Agostinho Gomes Jardim e Theresa Barbosa Menezes. Casado com a prima, Isabel Leonor Leitão, fixou residência na antiga sesmaria do sogro Antônio Ferreira Leitão, passada por herança para a filha. Da união do casal ficaram sete filhos.



Nas margens do Guaíba, o revolucionário montou uma charqueada e uma olaria. Trabalhador, ele conseguiu fazer fortuna. Tinha prestígio e influência especialmente por também exercer a medicina, o que o tornava ainda mais popular e benquisto. Em sua casa, Gomes Jardim organizou uma espécie de hospital para receber doentes vindos de todos os pontos do Rio Grande. Para exercer a profissão não precisou de estudos, nem de cursos regulares. Possuía bons livros e tinha uma verdadeira vocação médica.



No inicio da Revolução Farroupilha, junto com outros 60 homens, atravessou o Guaíba e uniu-se às forças de Onofre Pires, para atacar porto Alegre. Em 1836, quando foi proclamada a Republica Rio-Grandense, Gomes Jardim assumiu inteiramente a presidência da Província, no lugar de Bento Gonçalves, preso na Ilha de Fanfa, após derrota para os imperiais. Participou da Revolução até a assinatura do Tratado de Paz de Ponche Verde, onde esteve representado pelo ministro de Guerra,Coronel Manoel Lucas de Oliveira.

ANTÔNIO DE SOUZA NETO

Antônio de Sousa Netto (Rio Grande, 25 de maio de 1803 — Corrientes, 2 de Julho de 1866) foi um político e militar brasileiro, um dos mais importantes nomes do Rio Grande do Sul. É reconhecido por seu árduo trabalho na Revolução Farroupilha, que durou quase dez anos (de 1835 a 1845), como o segundo maior líder revolucionário.


Nasceu na estância paterna, em Capão Seco, no distrito de Povo Novo, da atual cidade de Rio Grande; lá é lembrado pelo CTG General Netto (de Povo Novo). Era filho de José de Sousa Neto, natural de Estreito (São José do Norte), e de Teutônia Bueno, natural de Vacaria. Por parte de pai, era neto de Francisco Sousa, natural de Colônia do Sacramento. O seu bisavô, Francisco de Sousa Soares, fora oficial de Auxiliares no Terço Auxiliar de Colônia do Sacramento e casara, em 1791, com Ana Marques de Sousa na capela da Fortaleza São João.

Descendia, pelo lado materno, do bandeirante João Ramalho, que vivia em São Paulo antes do povoamento e que casou com a índia Bartira (Isabel), filha do cacique Tibiriçá. Também pelo lado materno, descendia do paulista capitão-mor Amador Bueno da Veiga.

Era coronel comandante de legião da Guarda Nacional de Bagé, quando participou da reunião que decidiu pelo início da Revolução Farroupilha em 18 de setembro de 1835, na "Loja Maçônica Filantropia e Liberdade". Organizou, junto com José Neto, Pedro Marques e Ismael Soares da Silva, o corpo de cavalaria farroupilha. Era o general da primeira brigada do exército liberal republicano.

Em 1° de junho de 1836, participou do ataque a Rio Grande sem sucesso. Após a Batalha do Seival, proclamou a República Rio-Grandense, no Campo dos Menezes, a 11 de setembro de 1836. Lutou em diversas batalhas pelos republicanos, tendo comandado o cerco a Porto Alegre, durante vários meses, e a retomada de Rio Pardo, que estava nas mãos dos imperiais.

Em 7 de janeiro de 1837, travou o combate do Candiota, em que foi derrotado por Bento Manuel, mas já no dia 12 de janeiro, em Triunfo, vencia as tropas do coronel Gabriel Gomes, que morreu em combate.

Em abril de 1837 comandou a conquista de Caçapava, recebendo a adesão dos novecentos homens da guarnição imperial ali comandada por João Crisóstomo da Silva, apoderando-se de quinze peças de artilharia, quatro mil armas de infantaria e farta munição de boca e de guerra.Esses recursos possibilitaram a subsequente conquista de Rio Pardo, a 30 do mesmo mês, levando a que o comandante militar da Província, marechal Barreto, respondesse a um Conselho de Guerra.

Em Rio Pardo, em 30 de abril de 1838, junto a Davi Canabarro, Bento Manuel e João Antônio da Silveira, derrotou os legalistas, comandados por Sebastião Barreto Pereira Pinto e os brigadeiros Francisco Xavier da Cunha e Bonifácio Calderón. Em 18 de junho de 1840, acampado perto do Arroio Velhaco, foi atacado de surpresa por Francisco Pedro de Abreu e perdeu diversos homens, inclusive o coronel José de Almeida Corte Real, um dos melhores oficiais farroupilhas.

Abolicionista ferrenho, foi morar no Uruguai após a guerra, com os negros que o acompanharam por livre vontade e onde continuou com a criação de gado.

Retornou à luta em 1851, na Guerra contra Rosas, com sua cavalaria na brigada de Voluntários Rio-Grandenses, organizada inteiramente à sua custa, o que lhe valeu a promoção a brigadeiro Honorário do exército, e a transformação de sua brigada em Brigada de Cavalaria Ligeira.

Voltou ao combate na Guerra contra Aguirre e depois, juntamente com seu exército pessoal, na Guerra do Paraguai. No comando em brigada ligeira fez a vanguarda de Osório na invasão do Paraguai, no Passo da Pátria, em 16 de abril de 1866. Sua brigada ostentava sempre, ao lado da bandeira do Brasil Imperial, o pavilhão tricolor da República Rio-Grandense. Na batalha de Tuiuti, foi importante na defesa do flanco da tropa brasileiro, mas foi ferido a bala e mandado para um hospital em Corrientes, Argentina, onde morreu e foi inicialmente sepultado. Em 1966, no centenário de sua morte, seu corpo foi exumado e transferido para um mausoléu em Bagé.

BENTO GONÇALVES

Filho do alféres português Joaquim Gonçalves da Silva e de Perpétua da Costa Meirelles, filha de Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcellos, rico fazendeiro rio-grandense, nasceu na Fazenda da Piedade, pertencente à família de sua mãe. Seus pais desejavam encaminhar o filho para a carreira eclesiástica, porém a Bento interessava mais as lides campeiras. A família mudou de idéia depois de Bento ter matado um homem negro em um duelo, o que levou seu pai a forçar Bento a assentar praça, porém a interferência de seu irmão João Gonçalves adiou o enlistamento por cinco anos.


Incorporado na Companhia de Ordenanças de D. Diogo de Sousa, Bento cedo demonstrou sua vocação, ao engajar-se nas guerrilhas da primeira campanha cisplatina (1811-1812). Ao final da guerra, desincorporado como cabo, estabelece uma fazenda de criação de gado e uma casa de negócios em Cerro Largo, território uruguaio, lá conhece sua futura esposa Caetana Joana Francisca Garcia, com quem se casa em 1814 e tem oito filhos: Perpétua Justa, Joaquim, Bento, Caetano, Leão, Marco Antônio, Maria Angélica e Ana Joaquina.

Na segunda campanha cisplatina (1816-1821), seu prestígio como militar se confirmou. Em 1817 foi nomeado capitão, participou das batalhas em Curales, Las Cañas (1818), Cordovez, Carumbé (1819) e Arroio Olimar (1820). Em 1824 foi promovido a tenente-coronel.

Na Guerra da Cisplatina ou Guerra del Brasil contra as Províncias Unidas do Rio da Prata, foi comandante de cavalaria na batalha de Sarandi, em 12 de outubro de 1825, logo depois foi promovido a coronel de 1a linha. Participou também da Batalha do Ituizangó, também chamada de batalha do Passo do Rosário (20 de Fevereiro de 1827), cobrindo a retirada das tropas brasileiras.



Em 1829, pelos serviços prestados na campanha de 1825-1828 e que terminou com a independência do Uruguai, D. Pedro I nomeou Bento Gonçalves coronel de estado-maior, confiando-lhe o comando do 4° Regimento de Cavalaria de Linha e, no ano seguinte da fronteira meridional. Em 1830 recebeu o diploma da maçonaria.

Em 1834, denunciado como rebelde e acusado de manter entendimentos secretos com Juan Antonio Lavalleja para a separação do Rio Grande do Sul, foi chamado à Corte, junto com João Manuel de Lima e Silva. Defendeu-se perante o ministro da Guerra, foi absolvido e teve recepção triunfal no regresso à província. Os conservadores, no entanto, conseguiram a destituição de Bento Gonçalves do comando militar da Província do Rio Grande.

Foi eleito deputado provincial em 1835 na 1ª legislatura. Em 20 de abril de 1835, em plena sessão de instalação da assembléia provincial, é acusado pelo presidente da província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, de articular a separação do Rio Grande do Sul do restante do Império.

A Revolução Farroupilha iniciou-se em 20 de Setembro de 1835. No dia 25 daquele mês, o chefe militar declarou respeitar o juramento que havia prestado ao código sagrado, ao trono constitucional e à conservação da integridade do império. Em princípio, portanto, o levante não era de caráter separatista mas se dirigia contra o presidente da Província e Comandante das Armas. Mesmo assim, o Império não poderia aceitar a destituição de seus delegados - fosse por golpe ou não. Iniciava-se a luta que se estenderia por dez anos.

Na sua ausência, após retumbante vitória na Batalha do Seival, a República Rio-grandense foi proclamada pelo general Antônio de Sousa Netto em 11 de setembro de 1836.

Bento Gonçalves foi preso na Batalha do Fanfa (3 e 4 de outubro de 1836). Foi mandado para a Corte e depois encarcerado na prisão de Santa Cruz e mais tarde para o Forte da Laje, no Rio de Janeiro.Ali, apesar de preso, conseguiu receber visitas quase diárias de amigos e simpatizantes, também foi apresentado a Garibaldi e Rossetti. Em 15 de março de 1837 em uma tentativa de fuga da prisão, Pedro Boticário não conseguiu passar por uma janela, por ser muito gordo. Em solidariedade Bento Gonçalves também desistiu da fuga, na qual escaparam Onofre Pires e o Coronel Corte Real.

Depois desta tentativa de fuga foi transferido para a Bahia onde ficou preso no Forte do Mar. Lá sofreu uma tentativa de envenenamento, onde morreram um gato e um cachorro.Mesmo preso, foi aclamado presidente em 6 de Novembro de 1836. Permaneceu algum tempo, clandestino, em Itaparica e Salvador, onde teve contato com membros do movimento. Depois de despistar seus perseguidores que achavam que tinha partido para os Estados Unidos em uma corveta. Chegou, via Buenos Aires de volta ao Rio Grande do Sul e em 16 de dezembro de 1837, tomou posse como Presidente da República.

A 29 de Agosto de 1838 lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses onde justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo:

“Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer.Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas.”

E no trecho final, um juramento importante:

“Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e independência”

Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Poncho Verde.

Intrigas internas, num grupo desgastado pela longa guerra, em 1844, induzem Onofre Pires a destratar Bento Gonçalves, chamando-o de assassino (pelo assassinato de Paulino da Fontoura) e ladrão (das aspirações do povo, referindo-se ao teor da Constituição). Bento então convoca Onofre para um duelo, que se realiza em 27 de fevereiro de 1844. Onofre, atingido no duelo, dias depois viria a falecer por complicações advindas do ferimento.

A República Rio-Grandense teve seu fim na Paz de Poncho Verde, em 1º de março de 1845. Luís Alves de Lima e Silva - o Conde de Caxias -, general vitorioso, assumiu a presidência da Província. D. Pedro II, por sua vez, em sua primeira viagem como imperador pelas províncias do Império, foi ao Rio Grande em dezembro de 1845. Ao jovem monarca de vinte anos de idade, apresentou-se Bento Gonçalves, com seu uniforme de coronel e revestido de todas as medalhas com que havia sido condecorado por D. Pedro I, pela atuação nas campanhas militares do Primeiro Reinado.

Após o fim da revolta, Bento Gonçalves retornou para as atividades do campo sem interessar-se mais por política, Morreu dois anos depois, acometido de pleurisia, deixando viúva Caetana Garcia e oito filhos.

Seus restos mortais inicialmente foram sepultados em Pedras Brancas. No final de 1850 Joaquim Gonçalves da Silva exumou os ossos e transferiu para a propriedade de sua família , na estância Cristal, onde permaneceram até setembro de 1893, sob sua guarda. Com a mudança de Joaquim para Bagé, os restos mortais ficaram sob responsabilidade de seu irmão Caetano Gonçalves da Silva e com o falecimento deste, de sua esposa Maria Tomásia Azambuja.

Em 1900 o último responsável por sua guarda doou os despojos para seu primo, Inácio Xavier de Azambuja, que repassou para intendência municipal de Rio Grande, onde hoje repousam no monumento na praça Tamandaré.

CONTRIBUIÇÃO FEMININA NA ÉPOCA DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

CONTRIBUIÇÃO FEMININA NA ÉPOCA DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

       Com o início da Revolução Farroupilha a mulher teve sua vida e cotidiano transformados de uma hora para outra. Essas mulheres de costumes calmos viram suas vidas terem um encontro ingrato e arriscado com a guerra. Elas se apresentaram como mulheres firmes tanto no quesito físico quanto no emocional. Porém mesmo as mulheres muito terem ajudado na revolução, não obtiveram muito reconhecimento pela história e quando são abordadas, são colocadas como sombras de seus homens, destituídas de desejos e sentimentos próprios. Nesta época tivemos três exemplos femininos completamente distintos, porém que deixaram marcas na história da Revolução, as estancieiras senhoras que permaneceram na estância tocando a vida econômica e familiar, e as vivandeiras que acompanhavam os soldados nas batalhas e a mulher farroupilha do decênio heróico que teve que de uma forma ou outra figuraram na história do decênio heróico.

      Com a ausência dos homens no ambiente familiar devido à revolução, as mulheres tiveram que tomar a frente das casas. Elas se tornaram a cabeça do lar e, por isso, ficaram conhecidas como estanceiras, permaneceram nas estâncias, com a responsabilidade de administrar e cuidar das lidas campeiras, domésticas dos campos e dos negócios de família, além das obrigações de tomar conta do lar e dos filhos sozinhas sem a presença do homem.

      Numa época de revolta e de falta de carinho, essas mulheres nunca deixaram a afetividade de lado, pois sempre se reuniam nas estâncias e se uniam para rezar pelos os vivos ou chorarem pelos mortos. Mulheres que eram mães, esposas e filhas que ficaram em casa, esperando com ansiedade o fim desta revolta e que seus homens voltassem sãos e salvos para o seio do lar.

      A mulher estancieira foi a que permaneceu na estância, administrando as lides campeiras e domésticas, tomando conta do lar, dos filhos, da estância e cuidando dos negócios do homem ausente, que rezava pelos vivos e chorava os mortos. Era aos olhos de Deus e da sociedade patriarcal - a mãe, a esposa, a filha - permanecendo em casa aguardando ansiosa, o desfecho da guerra e o retorno do guerreiro.

      Muitas foram às heroínas desconhecidas, que lograram entrar na história, mas nem sequer seu nome é conhecido, como Caetana, esposa de Bento Gonçalves da Silva e Elautéria, mulher de Manuel Antunes da Porciúncula. Com seus maridos à frente da batalha elas assumiram a casa e o controle dos negócios, oferecendo seu extremo apoio à revolução e aos respectivos maridos. Essas mulheres nunca se incomodaram de estar atrás de seus maridos, pois acreditavam em suas ideologias e não tinham medo de lutar por eles.

A mulher farroupilha, com seu sentimento de compreensão e solidariedade, muito auxiliou o desenvolvimento da semente da República Rio-grandense, fazendo frutificar, em heroísmo, a alma da gente farroupilha. Ela soube avaliar e enfrentar o perigo, não para receá-lo e sim para combate-lo. Esta foi a mais sublime e valorosa lição feminina, raramente descrita com a merecida justiça e homenagem dos pósteros.

      A mulher sempre promoveu a mais iluminada unidade de fé, auxiliou a compor as mais importantes páginas da história gaúcha, em meio a grande destruição, acreditou e fez acreditar, que sempre se salva algo dignificante da vida.

      A Revolução Farroupilha colocou a mulher num encontro ingrato e arriscado com a vida, porém, por mais ameaçadoras, que se tenham apresentadas às circunstâncias, ela sempre soube manter-se firme: quanto mais a situação era adversa, mais a mulher soube se transformar na forja sagrada das convicções do herói farroupilha.

      Mesmo com pouca visibilidade, durante a Revolução Farroupilha tivemos a participação de mulheres que exerceram grande influência na batalha, mulheres que esqueceram suas fragilidades e foram para o campo de batalha ajudar seus homens nos conflitos. Mulheres essas que conseguiram provar que mesmo sendo femininas, eram fortes, ativas, com pensamentos extremamente rápidos e que para defender aquilo em que acreditavam e seus homens faziam de tudo.

      A mulher guerreira ficou conhecida por "vivandeira", a "china de soldado", foi à mulher, que acompanhou as tropas em seus deslocamentos e permaneceu nos campos de combate cuidando do soldado.

      As vivandeiras eram mulheres que serviam aos homens nas batalhas e se mostravam como figura presente em várias revoltas, não só na Revolução Farroupilha, como também na Guerra do Paraguai. Elas eram tidas como “prostitutas de batalhas”, mulheres que sempre estavam dispostas a acompanhar os soldados tanto nas vitórias quanto nas derrotas, apontando-se como figura marcante para os mesmos e para a história.

      Os soldados chamavam essas mulheres de chinas, chinocas ou mesmo prendas, pois a maioria delas era solteira e sem família, apresentando-se como mulheres que, sem família, acabavam por adotar umas as outras para continuar a viver. Mulheres fortes que para sua sobrevivência recolhiam roupas de soldados mortos para vender para outros em troca de comida ou de dinheiro.

      As vivandeiras também tratavam dos soldados que se feriam na guerra, e se apresentavam como as verdadeiras heroínas desses homens, esses que ao longo da guerra se sentiam solitários e que, por vezes, ficavam doentes tendo somente a elas como apoio. A companhia das vivandeiras para os soldados, por vezes, era a única distração que eles podiam ter. Essas mulheres que apesar do ambiente de tristeza devido às mortes se empenhavam em animar os homens que elas serviam com festas e contos de histórias.

     A sina das chinocas era esperar os homens e ensinar novas chinocas que entravam nesta vida com grandes fantasias de aventuras e uma vida nova sem regras, uma situação nem sempre encontrada. Essas mulheres viviam na esperança da vitória da revolução, a mercê dos amantes, esses que lhes prometiam vantagens materiais, dinheiro, presentes e folganças.

     As vivandeiras elas se mostravam como mulheres fortes e de difícil trato, já que só pertenciam aos homens que queriam. Elas tinham conhecimento de todos os arreios, sofriam assim como os soldados, com a chuva, o frio e a fome. Era comum se embriagarem, engalfinharem-se de bêbadas, mordendo e ferindo umas a outras, ou até mesmo indo para outros batalhões sem se justificarem, e sendo, por vezes, raptadas pelos inimigos.

      Uma prática comum entre as vivandeiras era o carcheio, isto é, o roubo. Elas despojavam os vencidos ou os mortos para as suas sobrevivências. Com essa prática elas conseguiam se alimentar e faziam um pequeno comércio com os objetos roubados das pessoas.

     Uma defesa que estas mulheres encontravam para se proteger de quem as tratavam mal ou as ofendia era a vingança, pois se mostravam rancorosas e guardavam antigas afrontas, gravando na memória perfis, lugares odiados e planejando vingança contra os mesmos.

      As vivandeiras pertenciam, em sua maioria, às classes populares, pois tinham etiquetas de uma feminilidade que as mantinham cativas, pois eram de certa forma, masculinizadas. Mulheres de pulso firme que quase sempre sabiam lutar para a própria sobrevivência num mundo em que elas tinham que matar ou morrer para sobreviver, um mundo que não tinha lugar reservado para elas.

      A história também registra a mulher farroupilha do decênio heróico, que foi a mulher que, de uma forma ou de outra, figurou na história oficial do decênio heróico. Dentre elas, citamos Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus). Mulher intensamente feminina, ativa, forte de ânimo, de decisões rápidas, uma exímia cavaleira, que despertou em Giuseppe Garibaldi um fortíssimo sentimento, mesmo nos poucos contatos, que tiveram em Santa Catarina, quando da invasão de Laguna pelas tropas farroupilhas, além de Maria Josefa da Fontoura Palmito, que promovia reuniões políticas em sua casa, em Porto Alegre, em apoio a Bento Gonçalves e aos Farrapos, também defendia a libertação dos escravos e tantas outras.

      Este é o lado da revolta que não é muito enfatizado, mas que sem o auxílio dessas mulheres para seus maridos, provavelmente, a revolta dos farrapos não teria alcançado tanto destaque. Mesmo que a presença do homem se mostre como fundamental nos conflitos, o apoio das mulheres se revela como um papel importante no desenrolar dos mesmos, sobretudo, no reforço dos laços de solidariedade e no apoio prestado entre os que estão envolvidos diretamente na guerra.
RETRATO DA FAMILÍA GAÚCHA



Em 1835, na Província de Rio-Grande não havia escola publica, nem pontes. A população era de 1.500 habitantes entre brancos, índios e escravos. Havia quatorze municípios apenas, comarcas e vilas e poucos jornais. Os ricos mandavam os filhos estudarem na Europa. A grande maioria das mulheres não sabia ler. A capital gaúcha, com 15.000 habitantes, fervilhava. Nas ruas e nas praças aconteciam enfrentamentos entre os grupos, com ferimentos e até mortes. Esse era o clima político de todos os gaúchos do começo de 1835.

As relações intrafamiliares e entre famílias, predominantes na época da Revolução Farroupilha (inicio do séc. XIX) eram muito diferentes das que conhecemos hoje. Podemos classificar a família daquela época como “tradicional”.

A família tradicional era aquela geralmente numerosa, centrada na autoridade do patriarca, mais comum até a primeira metade do séc. XX. Eram considerados “familiares” não só os pais e filhos, mas todo o entorno familiar (avós, tios, primos, etc), e as relações eram baseadas nos conceitos morais e autoritários da época.

A família é um sistema no qual se conjugam valores, crenças, conhecimentos e práticas, formando um modelo explicativo de saúde e doença, através do qual a família desenvolve a sua dinâmica de funcionamento, promovendo a saúde, prevenindo e tratando a doença de seus membros.

Família também pode ser conceituada como uma unidade de pessoas em interação, um sistema semi-aberto, com uma história natural composta por vários estágios, sendo cada um deles correspondente a tarefas específicas.

A partir das diversas concepções de família e de nossa própria vivência familiar, entendemos família como um sistema inserido numa diversidade de contextos e constituído por pessoas que dela fazem parte.

Ao tratarmos da evolução familiar, podemos estabelecer uma diferença entre as famílias do norte e nordeste brasileiro em relação das famílias do sul. Mesmo que a figura paterna permaneça em todos os casos como figura central da família, no sul a figura da mulher (mãe) não é de mera submissão. As circunstâncias típicas da região determinaram que a mulher assumisse papel diferenciado na família, especialmente na questão trabalho.

A condição de fronteira e a maneira como se originou a sociedade sul-rio-grandense, foram determinantes para o surgimento de um tipo de família tradicional, mas com características próprias.

A tardia ocupação do território pelos portugueses e o desinteresse econômico pela região, entre o descobrimento do Brasil e o ano de 1737 (quando foi fundado o forte Jesus – Maria - José) permitiram que o espaço físico fosse ocupado de forma desordenada por todo o tipo de gente que se dedicava à caça de gado para a exportação e tráfico do couro. Eram indígenas, espanhóis, mamelucos, mestiços de toda ordem, ou seja, gente que não constituía laços familiares permanentes e nem se fixava na terra.

A partir da chegada dos açorianos (1752) inicia-se uma alteração social importante, com a fixação num espaço físico, seja com a finalidade de produção agrícola, seja para a exploração da pecuária.

Os açorianos introduzem novo conceito de família: o clã, ou seja, a família era maior do que simplesmente aquela formada por um pai, mãe e filhos. Surge a família que inclui, além de pai, mãe e filhos, os sobrinhos, avós e até alguns “agregados”.

Os colaboradores, chamados peões e serviçais da casa, em muitas situações se integravam à família, não de maneira formal, mas colaborando tanto na educação, quanto nos cuidados das crianças e servindo de espécie de “damas de companhia” ou de “guarda-costas” dos chefes das famílias.

Em razão do tipo de atividade, especialmente no campo, em que lida como boi e com o uso do cavalo, até os escravos eram tratados como “de casa”. O patrão era mais um trabalhador diferente do que ocorria nos engenhos do Nordeste e também nas charqueadas do sul.

As famílias abastadas exerciam grande influencia na igreja e no estado. O setor primeiro do Brasil foi montado por meio de privilégios. Daí o modelo de sesmarias. O Estado se beneficiava com o modelo e um grupo de privilegiados tornava-se senhores da terra, concentrando poder. A figura do coronel, também aqui no estado se estabeleceu, talvez em menor escala se comparando com o Centro e Nordeste Brasileiros, porém, de uma forma geral vamos encontrar os proprietários sendo brancos de origem européia. Aos mestiços, pardos e negros restava a tarefa de peão, de soldado ou escravo.

Na composição do poder, vamos encontrar o poder econômico, o poder militar e o poder político enfeixados na figura do “fazendeiro”, ou estancieiro, no mais das vezes com títulos militares distribuídos de acordo com a quantidade de homens que podia dispor para constituir a força militar que defendia a fronteira.

As famílias ricas diferiam das pobres. As primeiras eram concebidas em torno do economicismo, com o objetivo de manter o poder, especialmente econômico. Eram comuns os casamentos encomendados ou arranjados entre os chefes de famílias poderosas. Nas classes pobres não havia essa preocupação e as uniões se davam de forma menos estável e sem interesse econômico.

No tocante ao casamento, verifica-se que se restringia praticamente às famílias mais abastadas. Os pobres (peões e trabalhadores urbanos) constituíam a família sem que o casamento fosse formalizado. Casar-se era caro e grande parte da população não tinha esse recurso. O controle e o registro dos casamentos eram feitos pela igreja católica.

A exemplo do que ocorria no centro do país, especialmente em são Paulo, aqui também havia muitos filhos não legítimos. O concubinatos era uma prática tolerada e os filhos bastardos eram muitas vezes acolhidos em casa, postura que algumas mulheres adotavam para se fazerem de santas e mostrarem que haviam perdoado os desvios e pecados de seus maridos.

Os casamentos não eram tão precoces, pois praticamente não haviam casamentos de menores de 14 anos, talvez devido até à condição econômica que acabava retardando, seja por não terem condições de sustentar a família por si sós, seja para não dividir demasiadamente as terras entre os herdeiros o que, provocava uma diluição do poder.

Quanto aos escravos as famílias gaúcha não possuíam grande número destes, a maior concentração de escravos se dava nas charqueadas.

As moças ficavam, na nossa estrutura, presas a autoridade paterna. Se pegarmos o direito brasileiro à época das ordenações Filipinas, veremos que era justa causa para deserdação das filhas que elas deitassem com homem fora do lar paterno, porque isso era uma ofensa ao pater. Porém para os rapazes, havia uma maior tolerância. A lei tratava discriminadamente, pois por exemplo, o Código Criminal do Império, punia o adultério não com aquela voracidade das ordenações que mandavam apredejar as mulheres e outras penas originárias dos tempos bíblicos, mas punia o adultério serenamente. Já para o homem ser punido, precisava-se da prova material de que ele tivesse em concubinagem franca com a mulher, pois relações passageiras, pequenos desvios e alguns pecadilhos eram tolerados.

A mulher, que de uma forma geral tinha papel coadjuvante na família. No interior da Província, no entanto, ela se transformou em chefe do lar. A condição de sociedade militarizada, pela necessidade permanente de defesa das fronteiras e das permanentes disputas com os castelhanos, exigia que os homens permanecessem muito tempo envolvidos em campanhas militares, longe das casas. Nesse cenário é que as mulheres assumiam o papel de mandatárias, dirigentes e responsáveis pela faina nas fazendas.

No inicio do século XIX, não havia homens com mais de 14 anos que estivessem alistados em algum exercito regular ou irregular. Cada estância constituía, também, um corpo de combatentes que deixavam as lides campeiras para se incorporar em alguma refrega militar ou em alguma escaramuça com um caudilho uruguaio.

Frutos das “peleias” entre portugueses (gaúchos) e espanhóis (uruguaios e argentinos), era comum existirem prisioneiros nas localidades em que havia fortificações militares.

Na distribuição de tarefas familiares do século XIX, de uma forma geral, vamos encontrar o seguinte:

_ Os homens mais velhos, aqueles a quem não mais era atribuída a tarefa do sustento, ficava reservado o papel de conselheiro, contador de histórias, especialmente para as crianças e supervisor, sem poder de decisão, das lidas do campo. Era ele que ensinava como castrar os animais, tosquiar as ovelhas, curar bicheira, escolher a erva certa para determinado tratamento, aconselhar sobre ações políticas. A opinião do “avô” era sempre respeitada.

_ às mulheres mais velhas ficava reservada a tarefa de supervisão das tarefas da casa. Elas cuidavam da saúde da família ( não havia sistema de saúde naquela época, somente depois do movimento higienista é que surgem os profissionais de saúde). As “velhas” conheciam as propriedades dos chás, dos emplastros e encarregavam-se dos partos, seja na condição de parteira, seja ajudantes para o preparo do ambiente das águas e dos panos necessários. Muitas mulheres mais velhas dominavam os segredos das benzeduras. Elas também exerciam o papel de conselheiras para as moças, especialmente nas questões amorosas. O trabalho de fiar e tecer, para a produção de vestimentas cabia às mulheres.

_ aos homens maduros (pais de família) cabia a tarefa de prover o sustento e fazer crescer o patrimônio. Eles agiam como sensores e controladores da moral. A eles cabia autorizar ou não um namoro ou um casamento que, muitas vezes, eles mesmos se encarregavam de arranjar, sempre com o fim patrimonialista. Exerciam, na família, o papel central que era dividido com a esposa ou irmã quando se ausentava para cumprir a função de militar nas revoluções, ou outras refregas. Não tinham ingerência nas questões “da casa”, isto é, na escolha das roupas, na feitura da comida ou nos enfeites utilizados para a decoração. Sua influencia era muito maior no “galpão da peonada”.

_às mulheres maduras (mães de família) ficava reservado o papel de coordenação da casa, comandando as serviçais, inclusive os escravos que exerciam tarefas domésticas. Eram responsáveis pela educação dos filhos, seja religiosa, seja “escolar” – não havia escolas formais – a aprendizagem das letras (ler e escrever) se dava dentro da casa. Eram elas que cuidavam das roupas _ confecção e remendos _ assim como bordados, tricôs, macramé, etc. As técnicas de manejo dos fios era passada de mãe à filha. As mães orientavam a formação do enxoval das filhas e as orientava para a aprendizagem que as tornassem “virtuosas”. Muito comum era o aprendizado de algum instrumento musical. No Rio Grande do Sul, a mulher era compelida a assumir funções que tradicionalmente cabia aos homens, especialmente nos períodos bélicos. Quando os homens iam à guerra, ficavam as mulheres, as crianças e os velhos a cuidar das estâncias. Se seus homens voltassem faziam festa, se não voltavam a rezar e choravam resignadas e faziam promessas para que os filhos não precisassem seguir algum clarim.

_ os jovens, a partir de 12, 13 anos, começavam a ser preparados para o desempenho de tarefas campesinas e de soldados. Quando o pai era artífice (alfaiate, marceneiro, etc). Os meninos eram estimulados a aprender a mesma profissão. A pratica de pai para filho, era quase que uma regra válida para todas as situações. Na lida campesina cabia aos jovens aquelas atividades que exigissem destreza e demonstração de coragem como a doma de cavalos. Os meninos também eram utilizados como portadores de recados, espécie de estafeta, dentro da estância. Aos meninos bastava que fossem valentes, corajosos e dispostos a enfrentar os perigos. Saber ler escrever não era mais importante, porém quando o pai decidia que um filho deveria estudar na Europa ou na Corte, a escolha nunca caía sobre as meninas.

_ as meninas e moças eram preparadas, pela mãe, pelas tias e pelas avós, para serem esposas e mães. Toda a educação era voltada para que a moça fosse virtuosa e que tivesse condições de honrar a família. Nunca tinham autorização para se afastar da casa, a não ser que fossem acompanhadas de um homem de confiança, às vezes um escravo.

A educação formal era muito descurada em toda a Província do Rio Grande do Sul. Os jovens homens destinados à advocacia, à medicina e ao sacerdócio, eram mandados para as universidades em São Paulo. Em Porto Alegre existiam apenas escolas primárias (1830).

As mulheres, as crianças e os jovens não participavam das discussões políticas ou ideológicas. As reuniões, muito comuns seja nas salas das casas, seja nas lojas maçônicas, eram freqüentadas exclusivamente pelos homens.