segunda-feira, 11 de outubro de 2010

CONTRIBUIÇÃO FEMININA NA ÉPOCA DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

CONTRIBUIÇÃO FEMININA NA ÉPOCA DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

       Com o início da Revolução Farroupilha a mulher teve sua vida e cotidiano transformados de uma hora para outra. Essas mulheres de costumes calmos viram suas vidas terem um encontro ingrato e arriscado com a guerra. Elas se apresentaram como mulheres firmes tanto no quesito físico quanto no emocional. Porém mesmo as mulheres muito terem ajudado na revolução, não obtiveram muito reconhecimento pela história e quando são abordadas, são colocadas como sombras de seus homens, destituídas de desejos e sentimentos próprios. Nesta época tivemos três exemplos femininos completamente distintos, porém que deixaram marcas na história da Revolução, as estancieiras senhoras que permaneceram na estância tocando a vida econômica e familiar, e as vivandeiras que acompanhavam os soldados nas batalhas e a mulher farroupilha do decênio heróico que teve que de uma forma ou outra figuraram na história do decênio heróico.

      Com a ausência dos homens no ambiente familiar devido à revolução, as mulheres tiveram que tomar a frente das casas. Elas se tornaram a cabeça do lar e, por isso, ficaram conhecidas como estanceiras, permaneceram nas estâncias, com a responsabilidade de administrar e cuidar das lidas campeiras, domésticas dos campos e dos negócios de família, além das obrigações de tomar conta do lar e dos filhos sozinhas sem a presença do homem.

      Numa época de revolta e de falta de carinho, essas mulheres nunca deixaram a afetividade de lado, pois sempre se reuniam nas estâncias e se uniam para rezar pelos os vivos ou chorarem pelos mortos. Mulheres que eram mães, esposas e filhas que ficaram em casa, esperando com ansiedade o fim desta revolta e que seus homens voltassem sãos e salvos para o seio do lar.

      A mulher estancieira foi a que permaneceu na estância, administrando as lides campeiras e domésticas, tomando conta do lar, dos filhos, da estância e cuidando dos negócios do homem ausente, que rezava pelos vivos e chorava os mortos. Era aos olhos de Deus e da sociedade patriarcal - a mãe, a esposa, a filha - permanecendo em casa aguardando ansiosa, o desfecho da guerra e o retorno do guerreiro.

      Muitas foram às heroínas desconhecidas, que lograram entrar na história, mas nem sequer seu nome é conhecido, como Caetana, esposa de Bento Gonçalves da Silva e Elautéria, mulher de Manuel Antunes da Porciúncula. Com seus maridos à frente da batalha elas assumiram a casa e o controle dos negócios, oferecendo seu extremo apoio à revolução e aos respectivos maridos. Essas mulheres nunca se incomodaram de estar atrás de seus maridos, pois acreditavam em suas ideologias e não tinham medo de lutar por eles.

A mulher farroupilha, com seu sentimento de compreensão e solidariedade, muito auxiliou o desenvolvimento da semente da República Rio-grandense, fazendo frutificar, em heroísmo, a alma da gente farroupilha. Ela soube avaliar e enfrentar o perigo, não para receá-lo e sim para combate-lo. Esta foi a mais sublime e valorosa lição feminina, raramente descrita com a merecida justiça e homenagem dos pósteros.

      A mulher sempre promoveu a mais iluminada unidade de fé, auxiliou a compor as mais importantes páginas da história gaúcha, em meio a grande destruição, acreditou e fez acreditar, que sempre se salva algo dignificante da vida.

      A Revolução Farroupilha colocou a mulher num encontro ingrato e arriscado com a vida, porém, por mais ameaçadoras, que se tenham apresentadas às circunstâncias, ela sempre soube manter-se firme: quanto mais a situação era adversa, mais a mulher soube se transformar na forja sagrada das convicções do herói farroupilha.

      Mesmo com pouca visibilidade, durante a Revolução Farroupilha tivemos a participação de mulheres que exerceram grande influência na batalha, mulheres que esqueceram suas fragilidades e foram para o campo de batalha ajudar seus homens nos conflitos. Mulheres essas que conseguiram provar que mesmo sendo femininas, eram fortes, ativas, com pensamentos extremamente rápidos e que para defender aquilo em que acreditavam e seus homens faziam de tudo.

      A mulher guerreira ficou conhecida por "vivandeira", a "china de soldado", foi à mulher, que acompanhou as tropas em seus deslocamentos e permaneceu nos campos de combate cuidando do soldado.

      As vivandeiras eram mulheres que serviam aos homens nas batalhas e se mostravam como figura presente em várias revoltas, não só na Revolução Farroupilha, como também na Guerra do Paraguai. Elas eram tidas como “prostitutas de batalhas”, mulheres que sempre estavam dispostas a acompanhar os soldados tanto nas vitórias quanto nas derrotas, apontando-se como figura marcante para os mesmos e para a história.

      Os soldados chamavam essas mulheres de chinas, chinocas ou mesmo prendas, pois a maioria delas era solteira e sem família, apresentando-se como mulheres que, sem família, acabavam por adotar umas as outras para continuar a viver. Mulheres fortes que para sua sobrevivência recolhiam roupas de soldados mortos para vender para outros em troca de comida ou de dinheiro.

      As vivandeiras também tratavam dos soldados que se feriam na guerra, e se apresentavam como as verdadeiras heroínas desses homens, esses que ao longo da guerra se sentiam solitários e que, por vezes, ficavam doentes tendo somente a elas como apoio. A companhia das vivandeiras para os soldados, por vezes, era a única distração que eles podiam ter. Essas mulheres que apesar do ambiente de tristeza devido às mortes se empenhavam em animar os homens que elas serviam com festas e contos de histórias.

     A sina das chinocas era esperar os homens e ensinar novas chinocas que entravam nesta vida com grandes fantasias de aventuras e uma vida nova sem regras, uma situação nem sempre encontrada. Essas mulheres viviam na esperança da vitória da revolução, a mercê dos amantes, esses que lhes prometiam vantagens materiais, dinheiro, presentes e folganças.

     As vivandeiras elas se mostravam como mulheres fortes e de difícil trato, já que só pertenciam aos homens que queriam. Elas tinham conhecimento de todos os arreios, sofriam assim como os soldados, com a chuva, o frio e a fome. Era comum se embriagarem, engalfinharem-se de bêbadas, mordendo e ferindo umas a outras, ou até mesmo indo para outros batalhões sem se justificarem, e sendo, por vezes, raptadas pelos inimigos.

      Uma prática comum entre as vivandeiras era o carcheio, isto é, o roubo. Elas despojavam os vencidos ou os mortos para as suas sobrevivências. Com essa prática elas conseguiam se alimentar e faziam um pequeno comércio com os objetos roubados das pessoas.

     Uma defesa que estas mulheres encontravam para se proteger de quem as tratavam mal ou as ofendia era a vingança, pois se mostravam rancorosas e guardavam antigas afrontas, gravando na memória perfis, lugares odiados e planejando vingança contra os mesmos.

      As vivandeiras pertenciam, em sua maioria, às classes populares, pois tinham etiquetas de uma feminilidade que as mantinham cativas, pois eram de certa forma, masculinizadas. Mulheres de pulso firme que quase sempre sabiam lutar para a própria sobrevivência num mundo em que elas tinham que matar ou morrer para sobreviver, um mundo que não tinha lugar reservado para elas.

      A história também registra a mulher farroupilha do decênio heróico, que foi a mulher que, de uma forma ou de outra, figurou na história oficial do decênio heróico. Dentre elas, citamos Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus). Mulher intensamente feminina, ativa, forte de ânimo, de decisões rápidas, uma exímia cavaleira, que despertou em Giuseppe Garibaldi um fortíssimo sentimento, mesmo nos poucos contatos, que tiveram em Santa Catarina, quando da invasão de Laguna pelas tropas farroupilhas, além de Maria Josefa da Fontoura Palmito, que promovia reuniões políticas em sua casa, em Porto Alegre, em apoio a Bento Gonçalves e aos Farrapos, também defendia a libertação dos escravos e tantas outras.

      Este é o lado da revolta que não é muito enfatizado, mas que sem o auxílio dessas mulheres para seus maridos, provavelmente, a revolta dos farrapos não teria alcançado tanto destaque. Mesmo que a presença do homem se mostre como fundamental nos conflitos, o apoio das mulheres se revela como um papel importante no desenrolar dos mesmos, sobretudo, no reforço dos laços de solidariedade e no apoio prestado entre os que estão envolvidos diretamente na guerra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário